Enxaqueca e sono: dormir mal é um gatilho e uma consequência da doença

Estudo revela que privação de sono agrava crises de enxaqueca e altera funcionamento cerebral; tratamento adequado é essencial para romper ciclo vicioso

 

A relação entre enxaqueca e sono é complexa e bidirecional: noites mal dormidas podem desencadear crises de enxaqueca, enquanto a própria doença pode comprometer a qualidade do sono. Um estudo recente da International Headache Society, publicado na revista científica Cephalalgia, investigou essa interação e revelou que a privação de sono pode intensificar a sensibilidade à dor em pessoas com enxaqueca. A pesquisa envolveu medições com estimulação elétrica de alta densidade e indicadores de intensidade da dor após duas noites de sono normal e duas noites com apenas quatro horas de descanso.

Os resultados mostraram que a restrição de sono altera o funcionamento cerebral, afetando sinapses nas redes de processamento da dor e aumentando a responsividade a estímulos sensoriais. Além disso, fatores pró-inflamatórios podem afetar diretamente os nociceptores e aumentar a transmissão da dor no nível espinhal. ​

Pessoas com enxaqueca também apresentam qualidade de sono reduzida, maior sonolência diurna e distúrbios de sono mais graves em comparação com indivíduos sem dor de cabeça. A insônia, por sua vez, está associada a um risco aumentado de desenvolver enxaqueca. ​

Para romper esse ciclo vicioso, é fundamental tratar adequadamente a enxaqueca e evitar o uso excessivo de medicamentos de crise, que podem piorar o quadro. Os medicamentos monoclonais anti-CGRP, desenvolvidos especificamente para enxaqueca, bloqueiam a ação de uma molécula envolvida na inflamação e transmissão da dor. A combinação desses medicamentos com a toxina botulínica, aplicada em pontos específicos, tem se mostrado eficaz no controle da doença. ​

Embora a enxaqueca crônica não tenha cura, é possível controlar as crises com avaliação individualizada e identificação de gatilhos e fatores que contribuem para a cronificação da doença. Manter uma rotina de sono regular e de qualidade é uma estratégia importante nesse processo.

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