Saúde e Riscos

Metanol pode causar cegueira e morte mesmo em pequenas doses, alertam especialistas

Substância frequentemente usada em bebidas adulteradas tem metabolismo lento no organismo, acumula-se em órgãos vitais e pode levar à intoxicação celular irreversível

 

Embora seja quimicamente semelhante ao etanol – o álcool presente nas bebidas comuns –, o metanol tem um metabolismo completamente distinto no organismo humano e representa um risco muito maior. Mesmo em pequenas doses, pode provocar danos irreversíveis ou até levar à morte. Especialistas ouvidos pela Agência Brasil detalham como ocorre a intoxicação e quais são os sintomas mais frequentes.

No corpo, o etanol se transforma em acetaldeído, substância tóxica mas que geralmente é metabolizada pelo fígado, sendo convertida em ácido acético (mesmo componente do vinagre). A capacidade de processar o etanol varia conforme idade, peso e condições de saúde do fígado. Seu consumo em excesso pode gerar dependência, intoxicação grave, falência de órgãos e até óbito.

Já o metanol segue uma rota parecida, mas com efeitos bem mais agressivos: ele se transforma em formaldeído e, em seguida, em ácido fórmico. Esse ácido é metabolizado lentamente com a ajuda do ácido fólico, e tende a se acumular em órgãos vitais. O primeiro impacto ocorre no sistema nervoso, especialmente no nervo óptico, provocando alterações na visão ou até cegueira – que pode ser transitória ou permanente.

Em casos de intoxicação grave, o excesso de ácido fórmico atinge as mitocôndrias – responsáveis pela produção de energia nas células. O processo é comparado a uma “asfixia celular”, pois as mitocôndrias deixam de funcionar, comprometendo o organismo inteiro.

Sintomas e riscos

Os sinais iniciais da intoxicação costumam surgir entre 12 e 14 horas após a ingestão, explicou a oftalmologista Hanna Flávia Gomes, do CBV-Hospital de Olhos do Distrito Federal. Os sintomas podem incluir dor de cabeça, náuseas, vômitos, dor abdominal, confusão mental e problemas de visão, que vão de visão turva até perda total da visão.

“É fundamental buscar atendimento médico imediato, já que o tratamento depende da confirmação laboratorial. Doses a partir de 10 ml já podem causar cegueira”, alerta a especialista.

Segundo o neurocirurgião André Meireles Borba, uma forma de identificar se houve ingestão de metanol é observar a evolução dos sintomas. Enquanto o etanol provoca efeitos quase imediatos, o metanol se manifesta de forma tardia e progressiva. Alterações visuais, como manchas, visão embaçada ou intolerância à luz, são sinais de alerta importantes.

Tratamentos disponíveis

Entre as opções estão o uso de bicarbonato para correção da acidez, administração de vitaminas como ácido fólico, aplicação de antídotos como o etanol intravenoso e, nos casos mais graves, a hemodiálise. Os especialistas reforçam que soluções caseiras são ineficazes e podem agravar a intoxicação.

Borba compara o efeito do formaldeído nas células ao bloqueio de um motor: “É como se o pistão de um carro fosse inundado com água e parasse de funcionar. Do mesmo modo, as mitocôndrias deixam de produzir energia, o que pode ser irreversível”.

Orientação

As autoridades de saúde reforçam que qualquer suspeita de intoxicação deve ser levada imediatamente a serviços de urgência. Hospitais e unidades básicas seguem protocolos específicos para identificar o tipo de intoxicação e encaminhar rapidamente para o tratamento adequado.

Com informação Agência Brasil. 

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