Para entender melhor como a chikungunya afeta a população pediátrica, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realizou, ao longo de quatro anos, uma pesquisa em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador. O estudo acompanhou 348 crianças e adolescentes, com idades entre 2 e 17 anos, e apontou que a maioria das infecções apresenta sintomas e pode deixar sequelas mesmo nesse grupo etário.
A investigação ocorreu paralelamente ao ensaio clínico de fase III da vacina Butantan-Dengue. Entre os objetivos estavam avaliar a frequência de casos assintomáticos, a resposta imunológica (soroconversão) e a ocorrência de dores articulares persistentes após a infecção (artralgia crônica).
A chikungunya, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, é conhecida por provocar febre alta e dores intensas nas articulações. Embora o impacto da doença em adultos seja mais documentado, há poucas evidências sobre como ela se manifesta em crianças e adolescentes.
Acompanhamento clínico
Durante o estudo, os participantes passaram por consultas médicas regulares, inclusive em episódios de febre ou outros sinais clínicos. Também foram coletadas amostras de sangue de forma periódica.
De acordo com a Fiocruz, as análises foram realizadas por RT-PCR, sorologia (Elisa) e ensaio de neutralização viral — técnicas que permitem identificar a presença do vírus e verificar a eficácia dos anticorpos produzidos pelo organismo.
A coordenação do trabalho foi da pesquisadora Viviane Boaventura, da Fiocruz Bahia. Ela explicou que os sintomas suspeitos foram documentados em questionários e, em seguida, analisados para entender a intensidade e duração da resposta imunológica após a infecção.
Resultados
No início do estudo, 23 crianças já apresentavam anticorpos IgG contra a chikungunya. Entre os 311 que completaram o acompanhamento, 17% tiveram contato com o vírus: 25 casos foram confirmados por RT-PCR e 28 por sorologia.
Entre os infectados, 9,4% não manifestaram sintomas e três desenvolveram artralgia crônica, quadro de dores persistentes nas articulações que dificultaram atividades cotidianas. A taxa de soroconversão entre os casos positivos foi de 84%.
Os resultados mostraram que, embora a maioria tenha desenvolvido anticorpos, uma parte dos infectados não apresentou resposta imunológica detectável. Outro ponto destacado pela Fiocruz foi a baixa exposição: mesmo com surtos locais, apenas 20% dos participantes entraram em contato com o vírus. Para os pesquisadores, isso evidencia a vulnerabilidade da população pediátrica e reforça a necessidade de estratégias preventivas mais eficazes.
Com informações da Fiocruz e Agência Brasil.