Indivíduos com maior habilidade de leitura e escrita enfrentam menos obstáculos ao executar atividades digitais, como fazer compras online, trocar mensagens, enviar imagens ou preencher formulários virtuais. No entanto, mesmo entre os considerados plenamente alfabetizados, cerca de 40% ainda demonstram desempenho apenas moderado ou insuficiente no mundo digital.
Os dados fazem parte do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), publicado nesta segunda-feira (5). A pesquisa analisa o domínio dos brasileiros em leitura, escrita e cálculos. Neste ano, o Inaf também investigou o desempenho digital, mostrando como a tecnologia influencia a rotina das pessoas.
O Inaf categoriza os indivíduos por níveis de alfabetismo a partir de testes aplicados em uma amostra representativa do país. Os participantes são classificados em cinco grupos: analfabetos, rudimentar (conhecimento básico), elementar (domínio simples), intermediário (habilidades funcionais) e proficiente (capacidade plena de leitura e escrita).
Para medir as habilidades digitais, os entrevistados realizaram atividades cotidianas em smartphones, como comprar um tênis seguindo um anúncio em rede social e preencher um formulário de inscrição para um evento. Seu desempenho nessas tarefas determinou a classificação em três categorias: baixo, médio ou alto domínio digital.
Os resultados revelaram que 95% dos analfabetos foram classificados no nível baixo de alfabetismo digital, conseguindo executar apenas tarefas muito limitadas no ambiente online.
No nível elementar de alfabetização, 67% dos indivíduos possuem habilidades digitais médias. Enquanto 17% veem a tecnologia como uma facilitadora no dia a dia, para 18% o ambiente digital representa mais obstáculos do que benefícios.
No nível proficiente de alfabetização, 60% dos indivíduos demonstraram alto domínio digital. No entanto, ainda dentro desse grupo com melhor educação, 37% apresentaram desempenho médio e 3% tiveram dificuldades, ficando no nível baixo.
De acordo com Esmeralda Macana, coordenadora do Observatório da Fundação Itaú, as competências digitais são essenciais para a inclusão social, não sendo meramente complementares.
“Para mim, foi um alerta de que a gente vai precisar fazer formações para que as pessoas se apropriem dessas formas mais tecnológicas, porque o mundo está cada vez mais digital. A gente já acessa serviços digitais como Pix, como marcar uma consulta médica. Acessar inclusive os programas de transferência de renda, de carteira de trabalho, documentos, identidade. Então, tudo é por meio digital. Se uma pessoa não tem essa habilidade para poder minimamente ter esse acesso, a políticas públicas inclusive, então, é muito preocupante”, diz.
A pesquisa revela que os jovens apresentam o melhor desempenho digital, especialmente na faixa de 20 a 29 anos (38% no nível alto), seguidos por adolescentes de 15 a 19 anos (31%).
De acordo com Roberto Catelli, coordenador da área de educação de jovens e adultos da Ação Educativa, as desigualdades observadas na educação e na alfabetização também se refletem no acesso e no uso das tecnologias. Por isso, não é suficiente investir apenas no letramento digital.
“Acho que um uma constatação, mais do que uma descoberta, mas importante, é que não adianta a gente ficar achando que só o mundo digital vai ser a solução para todos. Ao contrário, na verdade, o que fica evidente é que as mesmas desigualdades para aqueles que não que têm baixa escolaridade se reproduzem no contexto digital, porque também são pessoas que vão ter menos acesso”, diz.
O Inaf foi retomado após um intervalo de seis anos. Nesta edição, participaram 2.554 pessoas com idades entre 15 e 64 anos, que realizaram testes entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025 em todas as regiões do Brasil. O objetivo foi avaliar as competências dos brasileiros em leitura, escrita, matemática e habilidades digitais. A margem de erro estimada varia de dois a três pontos percentuais, conforme a faixa etária analisada, com um nível de confiança de 95%.
O estudo foi conduzido pela Ação Educativa em parceria com a consultoria Conhecimento Social. A edição de 2024 contou com a correalização da Fundação Itaú, em colaboração com a Fundação Roberto Marinho, o Instituto Unibanco, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).