“fora de forma”

Secretário de Defesa dos Estados Unidos critica generais e culpa diversidade

Hegseth diz que políticas de inclusão levaram décadas de decadência nas Forças Armadas.

 

Em um evento nesta terça-feira na Base dos Fuzileiros Navais de Quantico, na Virgínia, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, usou um discurso inflamado para atacar abertamente a cúpula militar do país, criticando generais e almirantes por estarem “fora de forma” e responsabilizando políticas de diversidade por décadas de declínio institucional. Segundo ele, tais práticas, que se alastraram sob a capa de correção política, desviaram as Forças Armadas de sua missão de excelência e coesão.

“É completamente inaceitável ver generais e almirantes gordos nos corredores do Pentágono, comandando formações ao redor do mundo”, afirmou Hegseth, sugerindo que líderes com tais aparências comprometem a própria credibilidade da instituição.

Ele atacou diretamente o que definiu como a “era da liderança politicamente correta”, e disse que a chamada “agenda woke” havia infectado o culto à competência militar. Para ele, permitir que fatores identitários, sejam raça, gênero ou política de inclusão, influenciassem promoções ou presença nos quadros oficiais foi um erro estratégico de longo prazo.

No encontro, Hegseth convocou generais de todas as partes do mundo, sem aviso prévio, e exigiu uma ruptura com o passado.

“Se as palavras que ouvem hoje fazem seu coração afundar, então façam o honroso: renunciem”, exortou.

Em tom de ultimato, lembrou que algumas dessas lideranças removidas ou criticadas recentemente, entre eles oficiais de alto escalão, já vinham sendo alvo de sua insatisfação pública, acusados de promover políticas ideológicas acima da meritocracia. Ele também anunciou que novos testes físicos e padrões de aptidão serão adotados, nos quais todos deverão atender aos critérios masculinos, sem tolerância para traços hoje considerados permissivos, como barbas ou aspectos de estilo pessoal.

O discurso foi seguido pelo ex-presidente Donald Trump, que também esteve presente ao encontro. Trump elogiou o ataque de Hegseth, disse que demitiria líderes militares se não apropriassem da nova orientação e reforçou que o sistema de promoções será “totalmente baseado em mérito, e não em correção política”. Ele ecoou argumentos contra diversidade e reafirmou que “quem não for o melhor, não terá espaço por razões simbólicas ou identitárias”. Em certo momento, citou que os oficiais presentes “têm valor apenas se forem os melhores, e não por traços demográficos”.

A plateia militar, composta por generais e almirantes de diversos comandos e teatros, permaneceu em silêncio. Alguns registravam com expressão séria, outros anotavam discretamente. A atmosfera foi marcada pela tensão: aquela reunião, convocada de modo abrupto, era vista por muitos como um recado explícito de que o ministério da Defesa pretende redefinir o papel institucional das Forças Armadas nos próximos meses — inclusive no plano simbólico e cultural.

Desde os primeiros meses da administração Trump, o Pentágono vinha sendo alvo de reformas abruptas: demissões de líderes, restrições a livros em bibliotecas militares e mudanças drásticas em protocolos internos já haviam sinalizado que o comando da Defesa buscava um rumo mais rígido. Agora, com as palavras de Hegseth, essas diretrizes parecem entrar em fase de execução mais agressiva.

Críticos desse movimento alertam para os riscos associados à politização das Forças Armadas: a coerência entre missão institucional e alinhamento ideológico corre o risco de se romper. Há ainda questionamentos sobre a viabilidade prática de exigir critérios físicos “masculinos” para todos, sem distinguir diferenças biológicas ou atribuições específicas de cada função. Outro ponto de atenção é o impacto em unidades que tradicionalmente exercem adaptações (forças especiais, defesa cibernética, logística). A radicalidade do discurso também acende alertas sobre liberdade institucional de oficiais que possam discordar das novas diretrizes sem enfrentar retaliações.

O episódio marca um momento de inflexão nas Forças Armadas americanas: a responsabilidade agora recai sobre generais e almirantes para aderir à linha recém-imposta ou, na visão do secretário, “desocupar” os cargos. A identidade, segundo Hegseth, dá lugar à conformidade — a disciplina rígida será imperativa, e qualquer resquício de permissividade será tratado como erro estratégico.

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