Julgamento no STF

Réus do “Núcleo 4” negam espionagem e articulação de golpe em depoimento

Acusados de integrar trama golpista, ex-major do Exército e agente da PF foram ouvidos por videoconferência; depoimentos incluem negativas sobre uso de sistema da Abin e pressão sobre militares

 

Dois acusados de integrar o chamado Núcleo 4 — grupo investigado por envolvimento em uma suposta tentativa de golpe de Estado no Brasil — prestaram depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) na manhã desta quinta-feira (15). Os interrogatórios, realizados por videoconferência, envolveram o agente da Polícia Federal Marcelo Araújo Bormevet e o ex-major do Exército Ailton Moraes Barros.

Atuação na Abin e suspeitas de espionagem

Marcelo Bormevet trabalhou na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) entre o final de 2019 e meados de 2022. No depoimento, ele negou envolvimento em investigações contra adversários do ex-presidente Jair Bolsonaro e também rejeitou ter disseminado notícias falsas sobre ministros do Supremo.

Entre as acusações contra Bormevet está a criação e propagação de fake news envolvendo os ministros Luiz Fux e Luís Roberto Barroso, inclusive com conteúdos de teor conspiratório que questionavam a lisura do processo eleitoral.

De acordo com Bormevet, seu trabalho na Abin consistia em realizar pesquisas sobre pessoas físicas e jurídicas, utilizando ferramentas de órgãos como a Receita Federal, Controladoria-Geral da União e Polícia Federal. Ele negou ter acesso ao sistema First Mile, usado para espionagem dentro da agência, mas admitiu que um subordinado seu, o subtenente Giancarlo Rodrigues, pode ter utilizado o sistema em outra área da Abin.

O agente também afirmou ter feito uma busca sobre um sobrinho do ministro Barroso, mas alegou que não houve má-fé. Segundo ele, tratava-se de uma pesquisa privada, semelhante ao que “milhares de brasileiros” fariam, e negou que tenha repassado essas informações a grupos bolsonaristas.

Ao ser questionado sobre possíveis investigações contra perfis críticos ao governo Bolsonaro, Bormevet afirmou que não se lembra se recebeu ordens nesse sentido ou se compartilhou informações com pessoas de fora da Abin. “Não tenho mais acesso ao que fiz no passado, não me recordo”, disse.

Sobre o caso do fiscal do Ibama Hugo Ferreira, Bormevet declarou que recebeu a solicitação do gabinete de Alexandre Ramagem, então diretor da Abin, mas que não sabe o motivo da demanda, vinda de um delegado da Polícia Federal.

Ex-major nega articulação de golpe

O segundo depoente do dia foi Ailton Moraes Barros, ex-major do Exército, que desde 2008 não integra mais as Forças Armadas. Por isso, prestou esclarecimentos como cidadão comum. Barros negou ter pressionado militares para apoiar uma ruptura institucional e disse que é citado apenas em mensagens trocadas por terceiros.

Ele negou qualquer articulação com o general Braga Netto e afirmou que apenas buscou contato com ele durante a campanha de 2022, com interesse em projetos de segurança pública.

“Eu era próximo do presidente [Bolsonaro] desde a época em que ele era cadete”, afirmou Barros. Ainda segundo ele, a publicação em que defende “separar homens de criancinhas” tinha o objetivo de ampliar seu alcance nas redes sociais, mirando potenciais eleitores. A postagem mencionava o general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, e o jornalista Paulo Figueiredo, neto do último presidente da ditadura militar, para atrair visibilidade.

As acusações contra o Núcleo 4

O grupo do qual fazem parte Bormevet e Barros é apontado como responsável por disseminar notícias falsas sobre a segurança das urnas eletrônicas e por atacar autoridades que se opunham ao suposto plano golpista. Os integrantes também são acusados de coordenar ações estratégicas de desinformação.

As denúncias incluem crimes como tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. As penas previstas somadas ultrapassam 30 anos de prisão.

Fazem parte do Núcleo 4:

  • Ailton Moraes Barros (ex-major do Exército)

  • Ângelo Denicoli (major da reserva)

  • Giancarlo Rodrigues (subtenente)

  • Guilherme Almeida (tenente-coronel)

  • Reginaldo Abreu (coronel)

  • Marcelo Araújo Bormevet (agente da PF)

  • Carlos Cesar Moretzsohn Rocha (presidente do Instituto Voto Legal)

O julgamento foi suspenso para o intervalo do almoço e deve continuar ainda nesta quinta-feira.

Com informações Agência Brasil 

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