À medida que o julgamento de Sean “Diddy” Combs se encaminha para a apresentação da defesa, o caso entra em uma fase ainda mais tensa. O rapper, empresário e ícone do entretenimento enfrenta o maior escrutínio público de sua carreira — não apenas por seu comportamento passado, mas pela forma como o poder, a fama e o dinheiro podem ter sido usados para manipular, silenciar e controlar pessoas ao longo de décadas.
Nos bastidores do tribunal, fontes próximas à promotoria indicam que o governo está preparado para lidar com uma ofensiva agressiva por parte dos advogados de defesa. A estratégia de Combs, além de desqualificar as testemunhas, inclui tentar apresentar a imagem de um homem cercado por oportunistas que hoje, anos depois dos supostos crimes, estariam se unindo em busca de indenizações financeiras ou vingança pessoal.
Os advogados do artista têm repetidamente afirmado que todas as atividades descritas foram consensuais, ainda que às vezes “excêntricas”. Eles também alegam que muitos dos relacionamentos de Combs eram complexos e intensos, mas jamais criminosos. Em relação às drogas encontradas e aos vídeos gravados, a defesa afirma que nada disso constitui crime em si, a menos que se prove coerção ou tráfico sexual, o que, segundo eles, não ocorreu.
Uma peça-chave que ainda pode ser incluída como prova é o vídeo de 2016 que mostra Combs agredindo Cassie Ventura, sua ex-namorada, em um corredor de hotel. A defesa tenta barrar esse conteúdo, argumentando que ele não se refere diretamente aos crimes em questão e que sua divulgação tem como único propósito prejudicar emocionalmente os jurados. No entanto, para a promotoria, o vídeo é central para demonstrar o padrão de comportamento violento e controlador do réu.
Além disso, há crescente atenção da mídia e do público para o comportamento de Combs fora da corte. Em aparições recentes, ele tem mantido um perfil discreto, evitando declarações e posando de forma controlada diante das câmeras — o que contrasta com a imagem mais extravagante e egocêntrica pela qual ficou conhecido no auge de sua carreira. Há quem diga que essa mudança de postura faz parte de uma estratégia calculada para provocar empatia no júri, apresentando-o como alguém centrado e disposto a colaborar com a justiça.
Enquanto isso, movimentos sociais que acompanham o caso têm se manifestado com força nas redes. Grupos ligados à luta contra o tráfico sexual e a exploração de mulheres em ambientes de poder artístico organizam vigílias, debates e campanhas para manter a atenção sobre a gravidade das acusações. Para muitas ativistas, este julgamento se tornou emblemático: não se trata apenas de um artista no banco dos réus, mas de um sistema que historicamente protege homens ricos e poderosos enquanto silencia vítimas.
O caso também lança luz sobre o papel da indústria musical na perpetuação de abusos. Ao longo do julgamento, surgiram questionamentos sobre como tantos episódios de violência e degradação puderam ocorrer por tanto tempo sem que ninguém — empresários, funcionários, parceiros comerciais — agisse para impedir. Testemunhas confirmaram que existia uma “cultura do medo” nos bastidores da Bad Boy Records, e que muitos simplesmente “não ousavam” contrariar Combs.
Se condenado, Sean Combs poderá enfrentar uma pena de prisão perpétua, além de perder contratos multimilionários, ativos empresariais e a totalidade de seu legado artístico. Caso seja absolvido, seu retorno à vida pública não será simples: ainda que juridicamente inocente, a opinião pública já parece ter sentenciado sua imagem.
Nos próximos dias, caberá à defesa a tarefa de convencer os jurados de que Combs não é o vilão pintado pela promotoria — e que por trás das manchetes há um homem vítima de distorções, má-fé e tentativas de extorsão. Resta saber se a argumentação jurídica será suficiente para apagar os rastros deixados por anos de festas secretas, ameaças gravadas, depoimentos dolorosos e imagens perturbadoras que já marcaram, de forma irreversível, o julgamento do artista perante a sociedade.