Economia Verde

Bioeconomia ganha força e movimenta a economia amazônica

Iniciativas no Pará podem responder por 4,5% do PIB estadual em cinco anos

 

A bioeconomia é um modelo de produção sem perda da biodiversidade, e se tornou uma das principais apostas de desenvolvimento na transição para uma economia de baixo carbono, extremamente necessária para o enfrentamento às mudanças climáticas. Na Amazônia, os resultados positivos dessa forma sustentável de negócio atraem, cada vez mais, investimentos de governos e da iniciativa privada.

O Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, na sigla em inglês) aponta um potencial global de US$ 7,7 trilhões em oportunidade de negócio até 2030, no relatório  Uma Oportunidade de Negócio que Contribui para um Mundo Sustentável.

Em Belém, capital do Pará e sede da próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro, o estudo 'Bioeconomia da Sociobiodiversidade' revelou, em 2021, o potencial de gerar até R$ 170 bilhões nas cadeias produtivas da floresta até 2040.

Centro de Inovação e Bioeconomia


Foto: Prefeitura municipal de Belém


Uma das obras que estão preparando a região para os debates da COP30 é a do Centro de Inovação e Bioeconomia de Belém (CIBB). Ela já ganhou investimentos de R$ 20 milhões, uma força-tarefa que envolve os governos federal e municipal e a empresa Itaipu Binacional, isso resultará na revitalização de um casarão tombado para abrigar 20 novas iniciativas em desenvolvimento.

A ideia é que o espaço seja um local de divulgação do modelo econômico e também a base de um ecossistema de apoio aos negócios. Empresas como a de Izete Costa, conhecida como dona Nena, que produz chocolate e outros derivados do cacau, na Ilha do Combu. 

Ribeirinha, nascida na comunidade Igarapé de Piriquitaquara, filha de agricultores, dona Nena cresceu percorrendo o Rio Guamá com os pais para comercializar o cacau nativo na parte continental de Belém.

Com o passar dos anos, a mudança no clima e a crescente demanda por outras culturas, a empresária viu uma diminuição dos cacaueiros na região. ”Nós costumávamos descer de lá com três, quatro canoas cheias de frutos de cacau. Hoje, meus irmãos não descem nem com uma”, disse ela para a Agência Brasil.

Preocupada com a preservação do cacau na ilha e com o objetivo de valorizar esse recurso natural, dona Nena iniciou uma busca pela melhor forma de beneficiar o fruto e agregar valor à produção local. De maneira artesanal, começou a fabricar chocolates utilizando o cacau cultivado em seu quintal e nos terrenos dos vizinhos.


Foto: Fabiola Sinimbú/Agência Brasil


Após 20 anos de dedicação, a empresa de dona Nena beneficia atualmente 16 famílias que, assim como ela, vivem do manejo sustentável da Floresta Amazônica, sem a necessidade de desmatamento ou de migrar para outras regiões em busca de novas oportunidades.

As famílias têm acesso à água potável por meio de um sistema de captação de chuva, e o beneficiamento do cacau também contribuiu para melhorias nas condições de saneamento e infraestrutura, facilitando a recepção de turistas que fortalecem a cadeia produtiva, sem a intermediação de atravessadores. Dona Nena se orgulha imensamente desse trabalho, que promove a conservação do bioma, mas ressalta que essa realidade ainda está distante para grande parte da região.

“O povo precisa manter a floresta de pé? Precisa. Mas precisa de água tratada, de saneamento básico, de um montão de coisas, assistência à saúde, que faz com que ele se fixe aqui. Porque muitas vezes sai daqui, vem outra pessoa que vem desmatar. Porque ele não tem as condições adequadas para se manter aqui”, diz dona Nena.

Adoção de Práticas Sustentáveis

A solução apontada pela empresária é maior investimento em assistência técnica e fomento aos produtores locais. Segundo a secretária adjunta de Bioeconomia do estado do Pará, Camille Bemerguy, para atrair investidores, governo estadual lançou o PlanBio Pará, que traça uma estratégia de valorização do patrimônio genético e fortalecimento das cadeias produtivas, com ciência e inovação.

“É um plano de Estado, não é um plano de governo, para garantir a continuidade, em que se estabelecem novas bases de uso da terra e uso da floresta. Então, a bioeconomia está ancorada dentro desse plano, o que dá um novo ambiente para isso, dá uma segurança jurídica para aqueles que querem investir aqui”, disse ao Agência Brasil.

De acordo com a gestora, embora a bioeconomia já venha sendo praticada há muitos anos pelos povos da floresta, a forma extrativista como o setor se desenvolveu nos últimos anos precisou ser revista e adequada às práticas mais sustentáveis. Associada a essa revisão, também foram estudadas formas de escalonar a produção e dar mais visibilidade aos produtos finais, explica Camille.

O Planbio também inclui a construção do Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia, que está em desenvolvimento às margens da Baía do Guajará, no âmbito do projeto Porto Futuro 2. Segundo o governo estadual, estão sendo investidos R$ 300 milhões na restauração e adaptação dos antigos armazéns da região portuária de Belém.

O local abrigará as instalações do Observatório da Bioeconomia, do Centro de Cultura Alimentar, do Centro de Sociobioeconomia e de um Centro de Turismo de Base Local. De acordo com Camille Bemerguy, os investimentos já estão gerando impactos diretos na estruturação do setor, que anteriormente contava com poucas iniciativas inovadoras e preparadas para se sustentar no mercado.

Com o setor mais estruturado, a gestora destaca que o estado também espera tirar empreendedores da informalidade e alcançar, com a bioeconomia, 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Pará, até 2030. “Você precisa destravar certos elementos para que esse desenvolvimento efetivamente possa não ser, de novo, mais um ciclo, para que ele seja transformador. Então, [vamos] melhorar toda essa parte de infraestrutura, de conectividade, de tornar menos invisíveis esses atores que estão aqui e que tanto contribuíram para esse desenvolvimento”, conclui.

Com informação Agência Brasil

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